Num atelier improvisado, cheio de potes de tinta acrílica, palhetas feitas em garrafas pet, livros, estatuetas de gesso, esponjas, estão sendo finalizados os auto-retratos de adolescentes infratores que serão apresentados na exposição, “O Mito de Narciso - Pinturas”. A abertura vai acontecer no próximo dia 15, das 18h às 21h, no Memorial do Ministério Público, Praça Marechal Deodoro, 110 – Centro – Porto Alegre.
O trabalho integra o projeto Artinclusão, do artista plástico e professor na Escola Tom Jobim do Centro de Atendimento Socioeducativo POA II, Aloízio Pedersen. Desde março de 2013 ele ensina na instituição técnicas de desenho e pintura para os adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas e sem possibilidade de atividade externa. Esta é a sua quinta exposição.
As obras são comercializadas e a renda revertida para seus autores. Para Aloízio, estes novos artistas acrescentam cor e emoção em “O mito de Narciso" e juntam suas vozes por novos paradigmas para o cárcere. “Estar dentro ou fora das grades é uma questão circunstancial. Uma sociedade sadia se preocupa com seus apenados e procura soluções para diminuir a reincidência infracional”, disse.
A oficina do professor Aloízio permite a incursão no mundo de emoções reprimidas. Cada traço formado nas telas de 50cm x 70cm expôe marcas de aflições, expectativas, problemas familiares, drogas, agressividade, encontros e desencontros, típicos da idade mais tenra.
Jovens apenados da Penitenciária Estadual do Jacuí e Arroio dos Ratos, por meio da Coordenadoria da Juventude da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) já participaram destas oficinas. A ideia, segundo o idealizador, é ampliar o projeto para as mulheres em situação de prisão e os pacientes cumpridores de medidas de segurança do Instituto Psiquiátrico Forense (IPF).
Narciso
O mito de Narciso apresenta a vida tumultuada deste jovem, que nasce de uma relação violenta entre Céfiso e Leríope, provocando nele uma série de conflitos. Ao mirar-se no lago, Narciso tem a possibilidade de renascer para uma vida mais fecunda. Famílias semelhantes a esta estão no perfil da maioria dos jovens em conflito com a lei, sinalizou o professor. A exposição vai até o dia 30 de setembro, com visitação em horário comercial.
Neiva Motta